Falsa couve envenena família em Minas Gerais e caso serve de alerta

Família é intoxicada após confundir planta tóxica com couve em Patrocínio

O caso deixou a comunidade local profundamente abalada.

Uma planta tóxica, frequentemente encontrada em áreas rurais e à beira de estradas brasileiras, provocou um grave episódio de intoxicação alimentar em Patrocínio, no Alto Paranaíba. Quatro pessoas da mesma família precisaram de atendimento médico após consumirem, durante o almoço, folhas de Nicotiana glauca — conhecida popularmente como “falsa couve” ou “fumo bravo”.

Três delas seguem internadas em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sob coma induzido, enquanto um dos familiares, um idoso de 67 anos, recebeu alta médica nesta quinta-feira, 9 de outubro. Segundo a secretária municipal de Saúde, Luciana Rocha, os três pacientes internados sofreram paradas cardiorrespiratórias na quarta-feira, mas tiveram os quadros revertidos com sucesso.

Ainda assim, permanecem conectados a aparelhos e sem previsão de retomada da consciência. A avaliação médica dependerá da estabilidade de cada paciente para que se inicie a redução gradual dos sedativos. A Polícia Civil abriu um inquérito para apurar o caso e trabalha com a hipótese de envenenamento acidental.

A planta teria sido colhida diretamente na chácara onde a família vive e utilizada no preparo de um prato refogado, sendo confundida com a couve tradicional. Parte do material foi recolhida para análise técnica na Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Belo Horizonte.

De acordo com especialistas, como a professora Amanda Danuello, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), a Nicotiana glauca contém a substância anabazina, um alcaloide altamente tóxico que pode causar paralisia muscular, respiratória e até a morte. A especialista destaca que o modo de preparo — cru ou cozido — interfere diretamente na quantidade de composto tóxico absorvido pelo organismo.

Mesmo comum em várias regiões do país, a planta apresenta diferenças visuais sutis em relação à couve comestível. Suas folhas são mais finas, com textura aveludada e cor esverdeada acinzentada, enquanto a couve verdadeira possui folhas grossas, de verde intenso e nervuras evidentes. Diante do risco, o alerta é claro: apenas consumir vegetais de procedência garantida e evitar o uso de plantas sem identificação segura.

Veja o vídeo aqui!

O caso reacende uma discussão antiga sobre a necessidade de educação alimentar e botânica nas zonas rurais, especialmente entre agricultores e famílias que mantêm hortas domésticas. Muitas espécies tóxicas crescem lado a lado com plantas comestíveis e, sem o conhecimento adequado, podem ser colhidas por engano. Programas de conscientização, promovidos por prefeituras e universidades, podem evitar tragédias semelhantes.

Outro ponto que preocupa especialistas é a falta de registros oficiais sobre intoxicações causadas por plantas silvestres no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, muitos casos não chegam a ser notificados, o que dificulta o mapeamento das espécies mais perigosas e o desenvolvimento de campanhas educativas eficazes.

A comunidade de Patrocínio também se mobilizou em apoio à família. Vizinhos e amigos têm ajudado com doações e suporte emocional, enquanto aguardam a recuperação dos pacientes. A comoção é grande, e moradores relatam medo e incerteza sobre o consumo de folhas cultivadas sem certificação.

Por fim, médicos reforçam a importância de buscar atendimento imediato em casos de suspeita de intoxicação. Náusea, fraqueza muscular, confusão mental e dificuldade para respirar são sinais de alerta. Não se deve tentar provocar vômito nem recorrer a remédios caseiros — o tempo é crucial para evitar complicações graves.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *