Velório de Tainara é marcado por forte comoção e corpo é enterrado sob aplausos: “Justiça”

O velório da vítima de atropelamento ocorrido na Marginal Tietê, em São Paulo, foi marcado por forte comoção popular e manifestações por justiça. O sepultamento de Tainara Souza Santos, de 31 anos, realizado na tarde desta sexta-feira (26) no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina, reuniu familiares, amigos e representantes de movimentos sociais em um ambiente de profunda dor e indignação.

A cerimônia de despedida durou cerca de cinco horas e ultrapassou o luto individual, transformando-se em um ato público contra a violência de gênero. Durante o velório, participantes pediram punições mais rigorosas para crimes de feminicídio e cobraram respostas efetivas das autoridades diante da recorrência de casos semelhantes no país.

Tainara morreu na noite da última quarta-feira (24), após passar 25 dias internada lutando contra as graves lesões sofridas ao ser atropelada e arrastada pelo ex-companheiro na Marginal Tietê. O cortejo fúnebre teve início por volta das 8h e seguiu até as 13h, sendo conduzido pela mãe da vítima, Lúcia Aparecida da Silva, e pelo irmão, Luan Henrique.

Em um depoimento emocionado, Luan relembrou o último encontro com a irmã, ocorrido pouco antes da tragédia na Zona Norte da capital. Segundo ele, um abraço trocado entre os dois se tornou sua lembrança mais preciosa.
“Ela está no colo de Deus. Agora a gente tem que pedir justiça por ela e para que a lei seja severa com quem comete esse tipo de crime”, declarou.

Lúcia Aparecida, que confirmou o óbito da filha nas redes sociais na véspera de Natal, afirmou durante o sepultamento que o fim do sofrimento físico de Tainara marca o início de uma longa batalha judicial. A família espera que o caso não seja esquecido e que a brutalidade do crime resulte em punição exemplar.

A mãe também destacou que a memória da filha, carinhosamente chamada de “guerreirinha”, deve servir de alerta e proteção para outras mulheres que vivem sob ameaça. Discursos de ativistas e amigas da vítima reforçaram críticas à violência recorrente contra mulheres no Brasil.

A amiga próxima Ingrid Rodrigues Barros, de 27 anos, expressou a revolta coletiva durante o ato.
“A gente está aqui para pedir justiça pela Tainara e por todas as mulheres que morrem todos os dias. Até quando isso vai continuar?”, questionou. Representantes do movimento “Mulheres de Várzea” também participaram da cerimônia.

Com a confirmação da morte, o inquérito policial passará por uma alteração na tipificação do crime. O autor, Douglas Alves da Silva, de 26 anos, encontra-se preso preventivamente desde o dia 30 de novembro e deverá responder por feminicídio consumado.

Tainara deixa dois filhos, de 12 e 7 anos, que agora estão sob os cuidados da avó materna. O caso chocou a capital paulista pela extrema crueldade empregada pelo agressor, que, após uma discussão motivada por ciúmes, utilizou um veículo para arrastar a vítima por mais de um quilômetro.

A violência resultou em ferimentos gravíssimos, levando à amputação de membros e, posteriormente, à constatação de morte cerebral. O episódio reacendeu o debate sobre a urgência de políticas públicas eficazes no combate à violência doméstica.

Especialistas ressaltam que casos como o de Tainara evidenciam falhas na proteção de mulheres que já enfrentam situações de risco. Organizações civis defendem o fortalecimento de medidas preventivas, como monitoramento de agressores, ampliação de casas de acolhimento e respostas mais rápidas do sistema judicial.

Enquanto familiares se despedem, o nome de Tainara passa a integrar a triste estatística de mulheres vítimas de violência extrema no Brasil, reforçando o apelo por mudanças estruturais e por justiça que vá além da punição, alcançando a prevenção.

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