Após ser liberada com diagnóstico de ansiedade, jovem perde a vida e laudo aponta infarto em curso há três dias
Morte de jovem após diagnóstico incorreto causa comoção e levanta debate sobre negligência médica no DF
A morte repentina da auxiliar administrativa Camila Messias Moraes, de 21 anos, ocorrida na última quinta-feira (26/6), em Ceilândia (DF), gerou profunda comoção entre familiares e amigos, além de levantar questionamentos sobre a conduta médica adotada durante seu atendimento em uma unidade hospitalar da capital.
Camila havia procurado o hospital da Unimed, localizado na Asa Sul, na véspera de sua morte, relatando dores no peito e dormência nos braços — sintomas clássicos de problemas cardíacos. Após ser medicada, ela recebeu alta com diagnóstico de crise de ansiedade e estresse. No entanto, na manhã seguinte, sofreu uma parada cardíaca em casa e não resistiu.
Um laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) revelou que a jovem estava em processo de infarto havia três dias e faleceu em decorrência de tamponamento cardíaco e ruptura de um aneurisma na aorta. Segundo os familiares, a falha no diagnóstico impossibilitou uma intervenção médica que poderia ter salvado sua vida.
Durante o atendimento no hospital, Camila realizou um eletrocardiograma que, conforme informações da família, apontava uma possível anomalia no átrio direito. Mesmo assim, não foram solicitados exames complementares, e a paciente foi liberada com uma receita que incluía prednisolona, dipirona, ibuprofeno e simeticona — medicamentos geralmente indicados para quadros leves.
A irmã da vítima, Amanda Messias Moraes, de 28 anos, afirmou que Camila não apresentava histórico de doenças cardíacas, tampouco fazia uso de substâncias ilícitas. Nos dias que antecederam sua morte, os sintomas se intensificaram, mas foram atribuídos a fatores emocionais. “Ela confiou no atendimento. Ninguém imaginava que seria algo tão grave”, desabafou Amanda.
A família registrou boletim de ocorrência na 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia), que investiga possível negligência médica. O caso está sendo analisado pela Polícia Civil, que poderá solicitar perícias complementares e ouvir os profissionais envolvidos no atendimento.
Em nota, a Unimed CNU lamentou o falecimento da paciente e expressou solidariedade aos familiares. A operadora negou qualquer falha no atendimento e destacou que, na ocasião, Camila foi classificada como paciente de baixo risco, sem indícios clínicos ou laboratoriais de gravidade. A empresa também informou que o prontuário médico está disponível à família, conforme prevê a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
O velório de Camila foi realizado no sábado (28/6), em meio a um clima de dor e indignação. Familiares, amigos e colegas de trabalho se despediram da jovem, descrita como tranquila, dedicada à fé e à família. “Camila era uma menina pura. A rotina dela era trabalho, igreja, ver o namorado e sair para comer um lanche”, recordou Amanda, emocionada.
O caso também reacende o debate sobre o atendimento médico às mulheres jovens que apresentam sintomas de infarto. Estudos apontam que muitas vezes os sinais são subestimados ou confundidos com crises de ansiedade, o que atrasa o diagnóstico e pode levar a desfechos trágicos. Especialistas alertam para a importância de protocolos sensíveis à diferença de sintomas entre homens e mulheres, sobretudo em pacientes jovens.
Além da dor da perda, a família agora busca justiça e esclarecimentos. Eles esperam que o caso de Camila sirva de alerta para que outras vidas não sejam ceifadas pela desatenção ou despreparo no atendimento médico. “O que queremos é que outras famílias não passem pelo que estamos passando agora”, disse Amanda.
A história de Camila deixa uma marca profunda e evidencia a necessidade urgente de aprimorar a escuta e a investigação clínica dentro dos hospitais, especialmente quando envolvem pacientes que, à primeira vista, não se encaixam no perfil típico de risco. A omissão, nesses casos, pode ser fatal.
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