Mãe desabafa ao encontrar corpo de filho desaparecido enfileirado em uma praça no RJ: ‘Na minha última conversa com ele’
Após a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro deixar um rastro de mortos, uma cena de dor e revolta marcou a manhã desta última quarta-feira, dia 29 de outubro. Aos 58 anos, uma mãe viveu o momento mais devastador de sua vida.
Desesperada, Elieci Santana procurava pelo filho desaparecido entre dezenas de corpos enfileirados em uma praça no Complexo da Penha e, ao encontrá-lo, desabou: “Meu filho. Por que fizeram isso com você?”. O desespero tomou conta da praça, e os gritos de dor ecoaram entre os moradores que acompanhavam, incrédulos, a dimensão da tragédia.
As fontes do relato são do jornal Folha de S.Paulo, que acompanhou o drama da mãe na Praça São Lucas. Antes de encontrar o filho, Fábio Santana, de 36 anos, ela gritava para a multidão que os corpos não deveriam estar cobertos, clamando por dignidade no meio do caos. O ato emocionou quem presenciava a cena — muitos se uniram em aplausos, em um gesto de solidariedade e protesto diante do sofrimento daquela mãe.
Com a notícia da morte, Elieci revelou a última e premonitória conversa que teve com o filho. “Na minha última conversa com ele, ele mandou a localização e pediu para eu ir ao encontro dele, tirar ele de lá, que ele queria se entregar, mas estava com medo de ser morto”. O desespero na voz da mãe denunciava a impotência diante da violência que há anos domina as comunidades do Rio.
Elieci confirmou que o filho era envolvido com o tráfico, mas que “sempre fugia” dos confrontos. A cena macabra na praça foi também um grito coletivo. Durante a madrugada, moradores levaram mais de 50 corpos encontrados na mata para o local, em um ato desesperado para que as famílias pudessem reconhecer seus entes queridos.
A advogada Flávia Fróes, que acompanha o caso, afirma que alguns corpos apresentavam marcas de facadas e tiros à queima-roupa. Desde a última terça-feira, o Rio vive um cenário de guerra. A megaoperação das polícias Civil e Militar nos complexos do Alemão e da Penha, contra o Comando Vermelho, deixou dezenas de mortos, tornando-se a ação mais letal da história do estado.
Enquanto o governo tenta justificar os números, organizações de direitos humanos denunciam abusos e pedem investigações independentes. Entidades nacionais e internacionais pressionam por transparência, afirmando que vidas foram ceifadas sem o devido processo legal. A ONU e a Anistia Internacional acompanham o caso de perto, temendo que o episódio se torne um símbolo de impunidade.
No Complexo da Penha, o clima é de luto e medo. Moradores relatam noites sem dormir, com helicópteros sobrevoando a todo momento e o som constante de tiros. As escolas e comércios locais permanecem fechados, e famílias inteiras tentam reconstruir a rotina entre o trauma e a indignação.
Enquanto isso, a mãe de Fábio, abraçada à neta, lamenta a perda do filho que, segundo ela, “sustentava a família, sempre honrou os pais” e deixou quatro filhas. Sua dor se junta à de dezenas de outras mães que, mais uma vez, choram por uma vida perdida em meio à violência que parece não ter fim no Rio de Janeiro.
Deixe um comentário