Pai e filho mortos por PMs durante festa são identificados: ‘Uma família destruída’
Tragédia na Fest Castanha: pai e filho morrem após ação policial; caso está sob investigação
Um episódio trágico e revoltante abalou a comunidade de Água Branca do Cajari, zona rural de Laranjal do Jari, no sul do Amapá, na noite do último sábado (31). Durante a tradicional Fest Castanha, dois policiais militares dispararam contra civis em meio a uma discussão, resultando na morte de pai e filho e deixando outras duas pessoas feridas. O caso, gravado por testemunhas, está sob investigação e causou profunda comoção na região.
As vítimas fatais foram identificadas como Sivanildo Pereira Monteiro, de 43 anos, e seu filho Jesus Aragão Monteiro, de 23. Ambos eram trabalhadores conhecidos na comunidade. Sivanildo atuava como extrativista de castanha e açaí e também como cozinheiro em um restaurante local. Casado, ele deixa uma filha grávida. Jesus seguia os passos do pai na lida com os frutos da floresta, atividade central para a economia da região.
Segundo relatos de familiares e moradores, a abordagem policial foi desproporcional e violenta. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram o momento em que a discussão se intensifica e os agentes sacam as armas, disparando contra as vítimas. Testemunhas afirmam que Sivanildo foi colocado na viatura ainda com vida, mas voltou já sem sinais vitais, com ferimentos graves no peito. Um dos policiais envolvidos também sofreu uma lesão na cabeça durante a ação.
A Polícia Militar do Amapá, por meio do Comando-Geral, confirmou o afastamento imediato dos dois policiais, que foram presos e levados para prestar depoimentos. A Corregedoria-Geral da corporação assumirá a investigação interna do caso. A Polícia Civil também segue apurando as circunstâncias da tragédia, que gerou revolta generalizada entre os moradores de Água Branca.
A prefeitura de Laranjal do Jari lamentou publicamente o ocorrido, prestou solidariedade às famílias e anunciou a suspensão das festividades da Fest Castanha. O clima na comunidade é de profundo luto e indignação. O velório de Sivanildo e Jesus foi realizado neste domingo (1º), com grande presença de amigos, familiares e moradores consternados.
Sabrina Aragão, sobrinha de Sivanildo, expressou a dor da família: “A gente vai lutar por justiça, porque foram duas vidas inocentes tiradas brutalmente. Foram sonhos interrompidos. Meu tio saiu daqui vivo, entrou na viatura vivo, e já voltou cravado de balas no peito”. O relato reforça a indignação diante da violência desmedida e da sensação de impunidade.
O episódio reacende o debate sobre a urgência de revisar os protocolos de abordagem e o uso da força em ações policiais, especialmente em contextos comunitários e eventos públicos. O equilíbrio entre autoridade e respeito aos direitos fundamentais é indispensável para que as instituições mantenham a confiança da população.
Além disso, o caso expõe a vulnerabilidade de comunidades rurais em regiões mais afastadas, onde o acesso à justiça e à fiscalização de condutas policiais pode ser limitado. É fundamental que haja transparência, responsabilização e apoio psicológico às famílias afetadas, para que tragédias como essa não sejam esquecidas nem se repitam.
Por fim, o luto coletivo vivido em Água Branca é também um chamado à sociedade: vidas negras, periféricas e rurais importam. Justiça para Sivanildo e Jesus não é apenas uma questão de punição — é um passo essencial para reconstruir a dignidade e a segurança da comunidade.
Deixe um comentário