Pai reconhece corpo de filho no RJ e desabafa: “Sou feirante, o que eu tinha pra oferecer pra ele era isso. Ele não quis”
O pai reconheceu o corpo de seu filho através de um vídeo divulgado no Rio de Janeiro e desabafou sobre as tentativas de o tirar do crime. Após mais de 24 horas de uma busca desesperada, o feirante Cláudio Lima teve a confirmação da morte de seu filho da pior forma possível, em uma história que comoveu o Rio de Janeiro nesta última sexta-feira, dia 31 de outubro. A vítima era Hércules Célio Lima, de 23 anos.
Hércules foi uma das 121 vítimas da megaoperação policial, e seu pai o encontrou sem vida ao receber um vídeo pelo WhatsApp com imagens dos corpos.
O pai, em meio à dor, contou como foi o momento da descoberta. Cláudio estava na mata, procurando pelo filho, quando abriu um dos muitos vídeos que circulavam nos grupos. Ao desabafar, ele relatou que recebeu um vídeo mostrando corpos no chão e, mesmo diante da cena devastadora, conseguiu reconhecer o filho.
Com a notícia da morte, veio à tona a luta de Cláudio para tentar mudar o destino do rapaz. Por cinco anos, o feirante tentou convencer Hércules a deixar o tráfico, oferecendo-lhe um emprego em sua barraca na feira, mas sem sucesso.
“Eu sou feirante, o que eu tinha pra oferecer pra ele era isso. Ele não quis. Já era um homem, maior de idade, e respondia pelas próprias escolhas. Não entendo o porquê desse caminho. Pai nenhum quer ver o filho seguir assim”, desabafou.
Desde o fim da megaoperação na terça-feira, a busca de Cláudio foi incessante. A “Operação Contenção”, que deixou um saldo oficial de 121 mortos, incluindo 115 suspeitos, se tornou a mais letal da história do Rio de Janeiro.
A dor de Cláudio se soma à de dezenas de outras famílias que, desde o início da operação, vivem a incerteza e o desespero de tentar localizar seus parentes. Nas portas do IML, pais, mães e irmãos se amparam uns aos outros, compartilhando histórias semelhantes de tentativas frustradas de salvar entes queridos da criminalidade. O caso de Hércules simboliza uma ferida social antiga, marcada pela falta de oportunidades e pela distância entre as comunidades mais vulneráveis e o poder público.
Moradores da região onde ocorreram os confrontos relataram que muitos jovens acabam sendo aliciados ainda na adolescência, atraídos pela promessa de dinheiro fácil e status. Especialistas apontam que o ciclo da violência se perpetua justamente pela ausência de políticas eficazes de educação, emprego e segurança. Para eles, a tragédia de Hércules evidencia a necessidade urgente de ações que previnam, e não apenas reprimam, o avanço do crime nas favelas cariocas.
Agora, Cláudio tenta encontrar forças para lidar com a perda e reconstruir a vida após o luto. Amigos e vizinhos se mobilizaram para ajudar nos custos do funeral e prestar apoio emocional ao feirante, conhecido por seu trabalho honesto e dedicação à família. Entre lágrimas, ele afirmou que seu maior desejo é que a morte do filho sirva de alerta para outros jovens que ainda têm a chance de escolher um caminho diferente.
O corpo de Hércules foi liberado no final da quinta-feira, encerrando um ciclo de desespero para o pai, que agora enfrenta o luto e as lembranças do filho que tentou, em vão, resgatar do mundo do crime.
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